domingo, 6 de setembro de 2015

Conversas de cabeleireiro

Dizia-me ontem uma senhora (que arranjava os pés ao meu lado): "Podemos estar muito em baixo, muito tristes, mas temos sempre de por uma cara alegre!"

Eu não concordo. Ou melhor, eu não consigo! Eu se estou triste não consigo sorrir e fingir que está tudo bem. E quando estou feliz extravaso!

Dizia ainda  essa senhora por entre dentes e com algum medo: "Eu só vou dizer isto uma vez, mas estamos a voltar ao Estado Novo. Os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres."

De seguida falámos das penhoras que as Finanças fazem às pessoas, de algumas que se chegam a suicidar e da pobreza em geral, do mal que se ganha e dos direitos que se vão retirando aos trabalhadores. Quando chegámos aos recibos verdes foi a vez da pedicure falar dos descontos que faz e do mal que se recebe.

No fim a senhora colocou uma cara alegre e falou das netas e da cor do verniz que pode ou não pôr para não vir a ser criticada, que a vida é para a frente e sempre com cara alegre (apesar de todo o peso e revolta que as pessoas vão carregando no peito)!

1 comentário:

Sílvia Barros disse...

São as mesmas senhoras que aprenderam logo desde novas que mesmo que os maridos as encornem fortemente devem continuar a servi-los e de sorriso na cara... são valores difíceis de entender. Estão habituadas a fingir que nada se passa e nada as afecta.