domingo, 22 de novembro de 2015

Porque eu mereço!

Sabem o anúncio da L'oreal em que elas dizem esta frase? E o anúncio do leite que dizia que se eu não cuidar de mim, quem cuidará? 

A verdade é que, mesmo com toda a publicidade, livros de auto-ajuda e amigos, às vezes é difícil acreditar que merecemos, que temos direitos, que podemos guardar a melhor parte para nós, que podemos ser felizes. Custa interiorizar! Acabo sempre por guardar o melhor para depois. A melhor roupa, a melhor carteira, as melhores férias... Haverá sempre um depois em que vou merecer mais. Penalizo-me e acho sempre que não estou à altura, que não sou boa o suficiente.

Há uns tempos atrás decidi procurar ajuda e deram-me a conhecer dois livros que mudaram um pouco a minha vida. Um dos livros, da autora Olga Castanyer, fala sobre Assertividade e, de certa forma, desmistificou algumas crenças irracionais que eu tinha e, embora tenha interiorizado na altura, muitas vezes esqueço-me do que li e de ir aplicando no dia-a-dia...

As ideias irracionais, enunciadas por Albert Ellis nos anos 50, são apelidadas de "irracionais" pois não obedecem a uma lógica nem são objectivas. Trata-se de noções da realidade que temos como certas, mas que são apenas comportamentos erróneos que nos prejudicam no dia-a-dia. São eles:

"1 - O ser humano tem necessidade de ser querido e aceite por toda a gente;
2 - A pessoa tem de ser muito competente e capaz de resolver todas as situações para se considerar útil e necessária; 
3 - Há gente má e desprezível que deve ter o que merece;
4 - É horrível que as coisas não aconteçam exactamente como nós gostaríamos;
5 - A desgraça humana é devida a causas exteriores e é impossível, ou quase impossível, controlar os desgostos e contrariedades;
6 - Se alguma coisa é ou pode vir a ser perigosa ou temível, é necessário preocuparmo-nos muito e projectar constantemente a possibilidade de isso acontecer;
7 - Algumas dificuldades ou responsabilidades pessoais são mais fáceis de evitar do que enfrentar;
8 - As pessoas precisam sempre de alguém mais forte do que elas em quem possam confiar;
9 - Um acontecimento passado tem uma importância determinante no comportamento presente, porque se alguma coisa nos afecta, continuará a afectar-nos indefinidamente;
10 - Devemos estar permanentemente preocupados com os problemas dos outros."

A par destas ideias erradas, no livro são também enunciados os direitos assertivos que nós temos. Todos temos estes direitos, mas muitas vezes nos esquecemo-nos deles à custa da nossa própria auto-estima. 

"1 - O direito de ser tratado com respeito e dignidade;
2 - O direito a ter e expressar sentimentos e opiniões próprias;
3 - O direito a ser escutado e tomado a sério;
4- O direito a julgar as minhas necessidades, estabelecer as minhas prioridades e a tomar as minhas próprias decisões;
5 - O direito a dizer "NÃO" sem culpa;
6 - O direito a pedir o que quero, consciente de que também o meu interlocutor tem direito a dizer "não";
7 - O direito de mudar;
8 - O direito de  cometer erros;
9 - O direito de pedir informação e ser informado;
10 - O direito a obter aquilo que paguei;
11 - O direito a decidir não ser assertivo;
12 - O direito a ser independente;
13 - O direito a decidir o que fazer com os bens bens, corpo, tempo, etc., desde que não viole os direitos dos outros;
14 - O direito a ter êxito;
15 - O direito a gozar e a desfrutar;
16 - O direito ao meu descanso, isolamento, sendo assertivo;
17 - O direito a superar-me, ainda que superando os outros."

E vocês conheciam estes direitos? Respeitam-nos?

"Se sacrificamos os nossos direitos com frequência, estamos a ensinar os outros a aproveitar-se de nós", P. Jakubowski.

8 comentários:

Maria do Mundo disse...

A dizer a verdade conhecer, conheço-os. Não tenho sempre é a mania de os aplicar a mim própria.

Anónimo disse...

Penso que ninguém se faz acompanhar, ainda que mentalmente, de uma lista de deveres e direitos. São conceitos que derivam da educação/formação que tivemos como pessoas e que surgem de modo automático, ou não, conforme somos confrontados com situações onde eles se aplicam.
No fim, viver é como conduzir um carro: sabemos onde está a alavanca de velocidades e os pedais e não precisamos de ir ver à lista (ainda que mentalmente "escrita") qual a decisão a tomar.
Tal como há maus condutores, também há maus cidadãos, ou cidadãos menos capazes que, de vez em quando, lá metem uma mudança errada, ou se esquecem de travar e vão bater no da frente. Mas de um modo geral, penso que essas listas nos foram sendo embutidas pela vivência e está tudo gravado num chip perdido, algures, no meio da couve-flor que transportamos aos ombros. ahahahah

MariaXL disse...

Aos poucos tenho ido aprendendo a desprender-me das ideias irracionais e a olhar mais para os meus direitos, embora mantendo sempre o respeito pelos outros. Sou da opinião que a vida é demasiado breve para viver à espera do melhor que ainda está para chegar ou não nos dando o devido valor. Ninguém é mais do que ninguém, mas somos todos exemplares únicos e isso torna cada pessoa, à sua maneira, especial. Então, nós também somos especiais! A vida é hoje, é agora, por isso há que vivê-la!Porque é claro que merecemos!

Sílvia Barros disse...

Concordo plenamente com o esperto com a única diferença que penso serem direitos que nascem connosco e nos acompanham sempre. Se os colocamos em prática ou não, é outra história. Basicamente chamo o direito de ser e existir. Só isso deveria bastar para sabermos do que falamos senão a lista torna-se uma justificação por si só.

MAG disse...

Eu entendo o que querem dizer, mas não acho que seja linear. Falsas crenças, por exemplo, eu tinha muitas. Sempre achei que colocar-me a mim em primeiro lugar era algo muito egoísta da minha parte. Também não gosto de pedir. Até porque às vezes a resposta não é um simples não. Acho que estes direitos derivam da educação, mas não concordo que tenhamos todos o chip com a informação toda. E no trabalho, por exemplo, há muitas pessoas que, com medo, não fazem valer os seus direitos.

Portuguesinha disse...

Mais ou menos estou no mesmo barco.
É importante, acho eu, salientar o "berço" dos portugueses.
O nosso «berço», a nossa herança familiar tende mais para o lado depressivo, do lamento... O portugues, goste-se ou não, está sempre a lamentar-se. Não é um povo assim como o Brasileiro, que tenta sempre ver o lado positivo e acreditar que amanhã vai ser melhor e deus vai ajudar, por isso, há que lutar! Não que nós sejamos tudo de mau e eles tudo de bom, não é isso. É apenas uma característica. A assertividade também me escapa. O não perceber porque há pessoas que simplesmente não gostam de outras sem razão alguma já não me afeta. Que não gostem de mim sem terem razão para tal, já não me afeta.

E sabes? Acho que levei a vida inteira a perceber que, lá por dentro de mim existir uma aprendizagem em que devemos ser sempre bons, justos, pacientes e desinteresseiros, que são tudo coisa boa, não quer sempre dizer que isso seja verdade. Talvez existam situações em que se ser justo não leve mesmo a nada.

E olha,,, acho que só agora começo a começar a entender...

Portuguesinha disse...

A primeira vez que pedi um favor e ele me foi concedido, sem problemas, foi quando percebi que não tinha o hábito de pedir. Não aprendi. E muito menos tinha tido exemplos ao meu redor de quem, escutando um pedido, tivesse ajudado. Fez-se "luz".

Fui "formatada" a pensar que tudo tinha de ser eu mesma a fazer. Que nem valia a pena abrir a boca... E foi a primeira vez que percebi realmente que nunca tinha sido ajudada. Aquilo era novo. Eu estava sempre pronta a ajudar quem de mim precisasse mas pedir ajuda... isso não fazia. E não sabia disso.

redonda disse...

Lembrei-me da música de publicidade do El Corte Inglês "tu lo mereces" ou algo assim.
Não sei se os conhecia assim como estão enumerados, mas tinha uma ideia. No dia-a-dia não é assim fácil tê-los presente.